O tesouro escondido dos bancos – seguros são a nova fronteira de ganho do sistema financeiro 

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O tesouro escondido dos bancos – seguros são a nova fronteira de ganho do sistema financeiro 

O tesouro escondido dos bancos. Em um ambiente de juros mais baixos e redução das margens no crédito, os seguros são a nova fronteira de ganho do sistema financeiro.

Conhecido por sua discrição, o Bradesco é ainda mais reservado ao escolher seus presidentes. O processo tem longas conversas internas, que jamais vazam para o público de fora. Nos últimos casos, porém, foi possível detectar um padrão. Os escolhidos para chefiar a gigantesca organização vieram da Bradesco Seguros. Foi assim com Luiz Carlos Trabuco e com Octavio de Lazari, indicado em fevereiro deste ano. A explicação é simples. “A seguradora é estratégica para os resultados globais da organização”, disse Lazari, em uma entrevista à DINHEIRO em janeiro, antes de ser indicado para a presidência.

José Maurício Coelho, presidente da BB Seguridade, tem boas expectativas para o segundo semestre (Crédito:Aline Massuca/Valor)

Ainda é cedo para dizer se o economista carioca Vinicius Albernaz, que preside a seguradora desde 27 de março deste ano, será o sucessor de Lazari. Porém, os 11 anos de casa e a passagem por áreas estratégicas como a tesouraria e a gestora de fundos, que administra R$ 600 bilhões em dinheiro dos clientes, lhe garantem cacife para cuidar de uma área que, ano após ano, responde por um terço do lucro do Bradesco, que foi de R$ 19 bilhões em 2017.

A relevância da Bradesco Seguros deve inspirar as estratégias nos demais bancos, que ganham ao diversificar para o mercado segurador. Segundo Lazari, isso ocorre pela diferença entre as dinâmicas das duas atividades. Os bancos são cíclicos. Seus resultados acompanham o ritmo da economia. Já as seguradoras são anticíclicas. Elas ganham mais nos momentos de crise, quando pessoas e empresas buscam proteção. “Quando o cenário está difícil, a importância dos resultados da seguradora cresce”, disse Lazari. Misturando as duas atividades, é possível preservar o ganho total tanto nos tempos bons quanto nos ruins.

Os números mostram isso claramente. Marcado pela turbulência política, o ano de 2016 não foi tão bom para o Bradesco. O lucro do grupo encolheu 3,9% em relação a 2015. A Bradesco Seguros, porém, lucrou 3,8% mais em 2016 do que em 2015. No ano passado, a dinâmica se inverteu. Ajudado por uma forte queda da inadimplência e pelo corte de gastos, o Bradesco lucrou 11% mais e apresentou um resultado recorde de R$ 19 bilhões. Desse total, R$ 5,5 bilhões vieram da seguradora, que obteve um lucro praticamente idêntico ao de 2016 (observe o quadro). Na ponta do lápis, a rentabilidade patrimonial da seguradora foi de 19,1%, acima dos 18,1% da média do conglomerado. “A seguradora tende a estabilizar os resultados do Bradesco”, diz Erivelto Rodrigues, sócio da consultoria Austin Asis.

Vinicius Albernaz, novo presidente da Bradesco Seguros, está a cargo de um terço dos resultados do grupo (Crédito:Ana Paula Paiva/Valor )

O mesmo raciocínio vale para a BB Seguridade, ligada ao Banco do Brasil. Ao contrário da Bradesco Seguros, ela é uma companhia aberta. Em abril de 2013, 29% de seu capital foi vendido em Bolsa, em um processo conduzido pelo então vice-presidente de atacado, Paulo Caffarelli, que hoje preside o BB. Em 2017, ela lucrou R$ 4,05 bilhões, resultado estável em relação aos R$ 4,01 bilhões de 2016. Nesse mesmo período, o lucro do Banco do Brasil cresceu 36,9%, para R$ 11 bilhões, ante os R$ 8 bilhões do ano anterior. “O desempenho faz sentido, considerando o ciclo de juros mais baixos”, disse José Maurício Coelho, presidente da BB Seguridade, ao comentar os resultados. Na ocasião, Coelho disse esperar que os resultados em previdência, capitalização e os seguros de automóveis, de vida e rural melhorem no segundo semestre deste ano.

A atuação de Itaú Unibanco e Santander nos seguros é diferente. Há quatro anos, em 2014, o Itaú associou-se à Porto Seguro e atua principalmente na distribuição de seguros por sua rede, cobrando comissões para fazer isso. O faturamento não tem deixado a desejar. Tanto em 2016 quanto em 2017 a receita foi idêntica, de R$ 6,2 bilhões. Já o Santander viu disparar o seu ganho com seguros, especialmente o seguro prestamista, que garante contra a inadimplência nas vendas a crédito. Em 2017, a receita de comissões foi de R$ 2,5 bilhões, avanço de 13,8% ante 2016.

A importância dos seguros para os bancos deve seguir crescendo. Prova disso é o interesse de Caffarelli, do BB. Responsável pela abertura de capital da seguradora, ele não esconde que, se pudesse, voltaria no tempo para desfazer o processo. “O banco ganhou dinheiro ao vender uma fatia da seguradora, mas a participação correspondente nos lucros faz falta”, disse ele com exclusividade à DINHEIRO ao comentar os resultados do BB, em fevereiro deste ano. “Se o banco tiver dinheiro, pensamos até em recomprar essas ações.” Procurados, os executivos do Bradesco e do BB não comentaram.

Fonte – Isto É Dinheiro

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